A liturgia quaresmal é, de forma sui generis, moralizante e edificadora. Deve-se reiterar que este é um período que, de forma frontal e perseverante, apela à moralização da nossa vida cristã, que deve influenciar a nossa existência enquanto seres criados para a liberdade, baseada na responsabilidade, e para a comunhão com Deus e os irmãos. No primeiro dia da Quaresma, o Evangelho aludia às abundantes formas de efetivar boas obras, abordando a esmola, sobre a qual dissertava: “Quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita, para que a tua esmola fique em segredo; e teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa” (cf. Mt 6, 3-4). Durante a vida pública de Jesus, este era um aviso sério, um apelo para que a esmola, dada em público, não se tornasse um motivo de vanglória, mantendo-se atual.
João Paulo II, numa Audiência Geral, em Março de 1979, afirmou que a esmola é conversão: “Esta abertura aos outros, que se exprime com o «auxílio», com o «repartir» a comida, o copo de água, a palavra amável, o conforto, a visita, o tempo precioso, este dom interior oferecido ao outro homem chega diretamente a Cristo, diretamente a Deus. Decide do encontro com Ele. É a conversão”. A Igreja convida-nos à partilha generosa, que pode ser feita de duas formas: material ou espiritualmente. A primeira, a título de sugestão, pode ser concretizada através da renúncia quaresmal, a partilha que cada cristão é convidado a fazer com a Igreja Diocesana e que depois é destinada a apoiar as causas mais necessárias e urgentes, principalmente no plano social; a segunda, correntemente menos realizada, atinge o seu auge na prática das Obras de Misericórdia, qual programa de vida para todos os homens e mulheres de boa vontade: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, visitar os doentes, dar bons conselhos, corrigir os que erram, rezar pelos vivos e pelos defuntos; entre outras, num total de catorze, divididas em obras de misericórdia corporais e espirituais. Nesta Quaresma, o Patriarcado de Lisboa destinará a renúncia quaresmal para as obras no Seminário dos Olivais. Pode este ser, pois, um bom motivo para colaborarmos. Espiritualmente, podemos, e devemos, rezar uns pelos outros, estar atentos aos nossos familiares, ser simpáticos com todos. Porque, acima de tudo, devemos ter desejo de santidade, dado que a esmola, como afirmou o Papa Francisco, no Ano da Misericórdia, mais do que atirar uma moeda ao ar, deve ser parar e falar com quem pede.
Diogo Ribeiro de Campos
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